Aproxima-se o Natal.
Noutros tempos era a festa da reunião familiar.
Avós, pais, filhos e netos juntavam-se em casas mais ou menos grandes, com presépio forrado de musgo, para comerem na noite de 24 uma bacalhoada ou polvo, cozidos, regados com azeite do bom.
A miudagem, tendo permissão para recolher à cama, um pouco mais tarde do que o habitual, entretinha-se com os mais velhos , a jogar Rapa, Dominó ou Loto, sempre a feijões, onde a alegria imperava.
Recorda-se o Faz Tudo que a Avó paterna, durante todo o ano, ia juntando numa lata que teria sido de azeite ou café e que eram lindas, todas as moedas de tostão ou 2 tostões que lhe sobravam ao fim dos dias e que naquela noite, distribuia igualitariamente pelos, na altura, quatro netos, Sílvio, Carlos, António e Júlio, mais tarde também o Fernando e a Néné.
Era o rejubilar!
Era hora de no fogão de lenha colocar o sapato ou a bota, fazer chichi e ir para a cama.
O corpo cansado das brincadeiras do dia, a tardia hora do aninhar e a ânsia de acordar cedo, faziam os putos adormecer instantaneamente.
Acordava-se naturalmente, mas com os olhos e o coração bem abertos, corria-se para a cozinha e ver o que o Menino Jesus tinha trazido.
Um simples objecto feito de madeira, com um pau para empurrar e uma esguia figura de pássaro que com o movimento batia as asas, um camião de madeira, também ele feito, normalmente amarelo com uma risca aqui e ali vermelha, um pião para as "nicas", um pacote de rebuçados e uma inevitável camisola laborada com muito amor, eram as surpresas daquela "madrugada"!
O resto do dia passava-se ora na rua, quase sempre com neve, ora em casa no conforto da braseira quentinha.
O Avô pachorrento.
A Avó nervosa com a assadura do peru.
Os Pais e Tios nas suas conversas de adultos.
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Hoje é quase cada um para seu lado!
Deixou de haver Menino Jesus e passou a haver Pai Natal!
Os presentes deixaram de ser uma "brincadeira", para serem os mais sofisticados e caríssimos jogos e quejandos!
Já não é na manhã de 25 que se encontra o presente surpresa.
Que hoje de surpresa já nada tem, pois que havia já sido combinado!
Transformou-se uma festa familiar, num verdadeiro hino ao consumo comercial!
Os centros comerciais abarrotam de gente a tentar, com as migalhas dos ordenados e subsídios, comprar aquela coisa que a criancinha na sua "inocência" "pediu" e que custa uma pipa de dinheiro!
O bacalhau cozido, esse passou a bacalhau com natas!
Enfim, a tradição já não é o que era!
Mas na sua, ainda não provecta, idade, o Faz Tudo, tem saudades!
Era a idade da inocência e os mais velhos tentavam que assim continuasse!
Tudo mudou!
Ainda bem?
Ainda mal?
Fica ao critério de cada um!
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Em casa do Faz Tudo a tradição mantém-se!
Beijos aos Avós
Beijos ao Pai
Beijos aos Tios
..........nas suas ausências.
Beijos à Mãe
Beijos à Nela
Beijos à Rita
Beijos a quem mais aparecer e
..........que partilharão comigo a ceia!
Tanto quanto for possível, um feliz Natal para todos!
1 comentário:
Tu reflexión sobre la Navidad me ha hecho recordar también mis Navidades de niña, cuando la felicidad estaba dentro de casa y nos rozaba la piel.
Hoy, la felicidad se ha perdido, dispersa entre el confort y el consumo.
Hoy se vive en una "falsa felicidad" que avergüenza. Y más en estos días. Un abrazo.
Estamos perdidos.
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