terça-feira, dezembro 06, 2005

O Faz Tudo e o Natal



Aproxima-se o Natal.
Noutros tempos era a festa da reunião familiar.
Avós, pais, filhos e netos juntavam-se em casas mais ou menos grandes, com presépio forrado de musgo, para comerem na noite de 24 uma bacalhoada ou polvo, cozidos, regados com azeite do bom.

A miudagem, tendo permissão para recolher à cama, um pouco mais tarde do que o habitual, entretinha-se com os mais velhos , a jogar Rapa, Dominó ou Loto, sempre a feijões, onde a alegria imperava.

Recorda-se o Faz Tudo que a Avó paterna, durante todo o ano, ia juntando numa lata que teria sido de azeite ou café e que eram lindas, todas as moedas de tostão ou 2 tostões que lhe sobravam ao fim dos dias e que naquela noite, distribuia igualitariamente pelos, na altura, quatro netos, Sílvio, Carlos, António e Júlio, mais tarde também o Fernando e a Néné.

Era o rejubilar!

Era hora de no fogão de lenha colocar o sapato ou a bota, fazer chichi e ir para a cama.
O corpo cansado das brincadeiras do dia, a tardia hora do aninhar e a ânsia de acordar cedo, faziam os putos adormecer instantaneamente.

Acordava-se naturalmente, mas com os olhos e o coração bem abertos, corria-se para a cozinha e ver o que o Menino Jesus tinha trazido.

Um simples objecto feito de madeira, com um pau para empurrar e uma esguia figura de pássaro que com o movimento batia as asas, um camião de madeira, também ele feito, normalmente amarelo com uma risca aqui e ali vermelha, um pião para as "nicas", um pacote de rebuçados e uma inevitável camisola laborada com muito amor, eram as surpresas daquela "madrugada"!

O resto do dia passava-se ora na rua, quase sempre com neve, ora em casa no conforto da braseira quentinha.
O Avô pachorrento.
A Avó nervosa com a assadura do peru.
Os Pais e Tios nas suas conversas de adultos.

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Hoje é quase cada um para seu lado!
Deixou de haver Menino Jesus e passou a haver Pai Natal!
Os presentes deixaram de ser uma "brincadeira", para serem os mais sofisticados e caríssimos jogos e quejandos!
Já não é na manhã de 25 que se encontra o presente surpresa.
Que hoje de surpresa já nada tem, pois que havia já sido combinado!

Transformou-se uma festa familiar, num verdadeiro hino ao consumo comercial!
Os centros comerciais abarrotam de gente a tentar, com as migalhas dos ordenados e subsídios, comprar aquela coisa que a criancinha na sua "inocência" "pediu" e que custa uma pipa de dinheiro!

O bacalhau cozido, esse passou a bacalhau com natas!
Enfim, a tradição já não é o que era!
Mas na sua, ainda não provecta, idade, o Faz Tudo, tem saudades!

Era a idade da inocência e os mais velhos tentavam que assim continuasse!

Tudo mudou!
Ainda bem?
Ainda mal?
Fica ao critério de cada um!

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Em casa do Faz Tudo a tradição mantém-se!

Beijos aos Avós
Beijos ao Pai
Beijos aos Tios
..........nas suas ausências.

Beijos à Mãe
Beijos à Nela
Beijos à Rita
Beijos a quem mais aparecer e
..........que partilharão comigo a ceia!


Tanto quanto for possível, um feliz Natal para todos!

1 comentário:

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

Tu reflexión sobre la Navidad me ha hecho recordar también mis Navidades de niña, cuando la felicidad estaba dentro de casa y nos rozaba la piel.
Hoy, la felicidad se ha perdido, dispersa entre el confort y el consumo.

Hoy se vive en una "falsa felicidad" que avergüenza. Y más en estos días. Un abrazo.
Estamos perdidos.

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