(miniatura de Julio Monfort)
Subiu ao sótão e abriu o baú onde guarda tralha que constitui e pode de algum modo, reconstruir-lhe o passado.
Fotos, papeis, objectos, fragmentos das mais variadas proveniências e também muitas ideias, juízos, julgamentos, amores, estudos, leituras, discussões, alegrias, tristezas, conhecimentos, dúvidas, viagens...
No meio de tudo isto, lá bem no meio da tralha, apareceu-lhe o tempo vivido em Tabuaço, logo no início da sua vida consciente.
Aí começou a formar-se.
Foi a ida para a primária.
Foi a bicicleta.
Não tem qualquer registo, por muito que revolvesse aquela parafernália, de um único colega de aulas.
Lembra-se sim do professor Acácio Machado, da rampa que o levava até lá cima, dum bando (hoje irreconhecível) de putos que calçados com tamancas de pau faziam frente à neve nos Invernos e aos calores sufocantes dos Estios.
Encontrou também, como flashs, as idas de caminheta até Vila Real, passando pela Régua, naquele tempo, paragem obrigatória (até para descanso do motorista).
Aqui olhava-se o Douro, ao tempo ainda selvagem e que no tempo das chuvadas era vê-lo cheio, turbulento, grande, aterrador, castanho-barrento, mas que punham este que era miúdo, em êxtase!
A viagem era duradoira, começando pela descida, em curva e contra-curva, até ao Douro, seguindo-se de novo em curva e contra-curva, a subida até à Campeã, já nos limites de Vila Real.
Havia sempre farnel! que a Mãe confeccionava com desvelo... belos pastelinhos de bacalhau!
Pela mão firme do Sr. Manuel, a viatura chegava ao destino e era a alegria do encontro com os Avós e casa, com beijinhos e abraços.
Voltou a meter tudo no baú e quem sabe daqui a algum tempo volte a revolver aquela tralha toda!
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