terça-feira, novembro 22, 2005

O Faz Tudo e a 13ª noite


( O Amélia de Melo de tão boas recordações)

A excitação era enorme!

A noite caíra, servido o jantar e cafezinho tomado com um digestivo, aguardava-se pela hora de dar uns passes de dança, na altura de corpos encostados, na "boite" do Amélia de Melo.
Assim aconteceu até às tantas dessa noite que igual às 12 anteriores, nos faziam chegar aos camarotes, completamente exaustos e dormir profundamente, embalados pelas serenas ondas do Atlântico.

Só que nessa 13ª noite os finais seriam diferentes!

Avisados estavam todos os passageiros (militares eram só 5 ) que durante a manhã seguinte se atracaria em Luanda e era necessário ter toda a papelada em ordem e as malas feitas!

Poucos foram os que não resistindo ao sono, se recolheram.
A grande maioria ficou vigilante durante toda a cálida, límpida e luarenta noite, com a prata a circundar o paquete.
Tentava-se manter a escuridão do local de vigília, para assim se poder perscrutar a "aurora boreal" que as luzes da cidade fariam, ainda antes de se conseguirem identificar.
As ilusões de óptica eram constantes.
Até que finalmente, ainda noite, se nota o aparecimento na linha do horizonte, mesmo à nossa frente o clarão aumentando de intensidade à medida que o Amélia de Melo, na sua calma rota, se aproximava de costa.
O dia ia clareando, o brilho das luzes, ainda invisíveis, ia desaparecendo e só o mar, mais uma vez nos fazia companhia.
Extenuados de cansaço e copos vertidos no fígado, fizeram os corpos cair para o lado e passarem pelas brasas.

LUANDA À NOSSA FRENTE!
Alguém gritou!

Com a feérica luz solar, os olhos mais mortos que vivos, tentavam ver.

E aí estava Ela!
A porta de entrada no território que a muitos traria sofrimento, dor ou morte e que a outros traria a alegria constante de vivências loucas e recambolescas, próprias duma Terra de encantos mil e que deixaria nostalgicamente, ao Faz Tudo, a vontade de lá voltar um dia!

Foi assim que o mascarado de Alferes Miliciano, pôs os pés em Angola, em Setembro de 1968.

Aguardavam-no no cais, um seu Tio, o Bébé, e a senhora com quem tinha casado recentemente.

Para comemorar o feito, foi convidado para almoçar num restaurante chiquíssimo, algures... frango assado!
Era o que se usava na altura!

Para a noite já havia sido combinado com outra malta, encontro em apartamento de fronte para a baía, seguido de ida, lá mais para a frente, ao Calhambeque, com as primas e amigos do grupo, que nessa ocasião estavam de férias grandes das universidades e liceus cá do continente (ou do puto, como na gíria era conhecido Portugal continental).

A partir daqui podem imaginar as "férias" também grandes que o Faz Tudo teve durante 25 mêses, naquelas saudosas terras quentes, onde está a fazer os impossíveis, para que em 2006 (38 anos depois), lá possa voltar, nem que seja só para respirar o ar!

Claro que se for, irá desta vez de avião!

3 comentários:

Choninha disse...

Gostei. Então o restaurante chique e o franguito assado? Do melhor!

Maria Papoila disse...

A frase "Luanda à nossa frente", fez-me lembrar uma das "estórias" do meu pai. Conta ele que depois de cumprido o serviço militar, estando de volta a Portugal (ao puto), a emoção era tanta, que quando o comandante do avião anunciou que estavam a 10 minutos de Lisboa, não resistiu e levantou-se, gritando: "é pá, que já vejo a minha mãe!"
Peço desculpa por partilhar esta "estória" privada, mas não resisti.

Jorge disse...

Gostei muito da estória, mas quanto ao paquete, Deus nos livre: que luxo!
Eu fui para a guerrea nun chaveco bem pior, onde nem sequer havia civis: o distinto e já defunto navio-motor "TIMOR".
Acrescento que foi este navio que influenciou o inventor da sauna, que afinal não é Sueca, mas sim bem Portuga.
É so questão de ter viajado em,tal charuto aquático eperguntar aos sobreviventes..-

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