Fez sinal, com o braço estendido, para que o carro-eléctrico parasse.
Subiu aqueles degraus que lhe fazem horrores à zona lombar, comprou o bilhete, sem reparar se o troco estava correcto e como quem não quer a coisa, procurou onde se sentar.
Restava apenas um, no banco dos malucos! aquele onde o pessoal se senta de lado e leva uns safanões, cada vez que o veículo arranca ou faz uma travagem! e se cai invariavelmente no colo duma anafada, faladora compulsiva, normalmente vestida, mas com avental ou bata, com uns pés mais largos que compridos, com umas mamas de fazer inveja a qualquer cidadã americana, com um cheiro típico dum misto de lixivia com yogurte líquido que vai pingando pelo beicinho de baixo, já que é díficil bebericar e respirar ao mesmo tempo, por via do buço que faz inveja aos bigodes dos antigos guarda-republicanos, com cerca de 9 sacos do Lidl, onde amarfanhados se presume levar couves, umas postas de peixe congelado, uns bifes de perú, 2 rolos de papel higiénico, um desodorizante que pela amostra deve ter um pivete tenebroso que vai oferecer, não se sabe se ao maridão ou àquele que lhe faculta a cama, para umas horas de brincadeira, entre tantas outras coisas. Ah! e o cabelo? uma mise feita três dias antes, na cabeleireira do bairro, donde saíam de onde em onde uns ganchos para segurar os três pelos soltos na cabeça e que teimavam em cair para os olhos, esses já foscos dumas cataratas que fariam as delícias de qualquer oftalmologista!
Só depois de divagar profundamente sobre a personagem se deu conta que estava a chegar ao destino, sem reparar que mesmo à sua frente, em condições idênticas, ia sorrindo, uma espantosa mulher, quer pelo porte, quer pela beleza.
Teve tempo de lhe sorrir, percebendo que ela tinha "ouvido" tudo o que ele pensara da vizinha do lado!
Piscaram o olho e .... talvez um dia voltem a encontrar-se com companhias diferentes!
O Faz Tudo ama os carros-eléctricos!
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